Nesse período há necessidade, para o jovem, de
administrar as frustrações e carências, muitas vezes manifestada na procura por
pertencer e ser aceito pelo grupo social no qual se insere. E, exatamente nesta
procura reside a mola propulsora do longa “Aos Treze”, uma mordaz crítica
social exposta pela diretora Catherine Hardwicke e notavelmente protagonizada
pela dupla de jovens atrizes Rachel Evan
Wood e Nikki Reed.
A diretora tem poucos longas no seu currículo,
mas dois merecem destaque: a origem da saga dos vampiros adolescentes
“Crepúsculo”, e o criativo e esteticamente belo: “A Garota da Capa Vermelha”.
Hardwicke tem demonstrado tendência para abordar a psique adolescente, os
problemas e inquietações dos jovens nesta idade, porém, em nenhuma das obras
acima citadas o aprofundamento psicológico e social é tão forte como, no citado
“Aos Treze”.
No próprio trabalho do pôster do filme já é exposto uma
pequena parcela do que o espectador vai ver. Wood e Reed estão com as línguas à
mostra numa evidente dupla interpretação entre o piercing (a rebeldia e
transgressão) e uma pílula (a busca inconsequente
pelo prazer por meio das drogas).
A adolescência e a busca de aceitação pelo grupo. |
Em síntese, “Aos Treze” é um período da vida de Tracy
(Wood), adolescente mimada pela mãe (Hunter) em consequência do abandono da
família pelo pai e do afastamento total deste. Ao buscar suprir a família com
afeto a mãe infantiliza a filha vestindo-a com roupas e acessórios ingênuos o
que faz com que Tracy seja constante alvo de chacotas no colégio.
Para buscar a aceitação no grupo das adultas, Tracy faz
qualquer negócio. Em decorrência de um furto conquista a amizade de Evie Zamora
(Reed), que, também inconsequente, irá conduzir a jornada de ambas rumo aos
prazeres da vida adulta. Ocorre que, como geralmente acontece, as adolescentes
inexperientes e despreparadas terminam sendo usadas e abusadas pelo grupo de
rapazes que buscam conquistar.
Porém, Hardwicke vai mais a fundo. Ao focar o mundo pelos
olhos de Tracy, expõe a fragilidade e autodestruição que acomete todos os
personagens que a circundam. Pouco a pouco o espectador percebe que as “jovens”
nada mais são do que a porta de entrada para um abismo que conduz a uma
sociedade marcada pelas drogas, fugas, carência e insatisfação com a péssima
situação social dos personagens.
A cumplicidade entre a dupla central. |
O filme então cresce para a belíssima cena final onde a
comunicação entre mãe e filha ocorre numa catarse comovente. Apesar da ótima
interpretação de Wood, Holly Hunter mostra , com imbatível superioridade por que é uma das grandes atrizes de
sua geração. Seus gestos são puros, doces, fortes, e carregados de
expressividade.
“Aos Treze” embora inicie com um filme de jovens, aos
poucos se assemelha com obras como Christiane F. Porém, é no seu terceiro ato
que é disparada uma metralhadora de críticas conta todos, impotentes e imersos
em uma conjuntura social cujo resultado é o comportamento inconsequente dos adolescentes.
E, ao final, percebe-se que “Aos Treze” não é só a idade
das duas protagonistas centrais, mas a metáfora da “idade psíquica” de todos os
personagens. Desamparados e incompetentes ao lidar com os revezes da vida todos
apresentam despreparo e ingenuidade.
“Aos Treze” é uma
obra contundente e as reflexões que desperta no espectador são duradouras. Nota
8,5.
Nenhum comentário:
Postar um comentário