terça-feira, 22 de novembro de 2011

“Aos Treze” – de Catherine Hardwicke. A busca pelo prazer no período da fragilidade.

A adolescência... a idade em que todos buscam as experiências mais intensas. A Razão está apenas criando raízes na personalidade. Em contrapartida o adolescente se entrega à busca pelo prazer.

Nesse período há necessidade, para o jovem, de administrar as frustrações e carências, muitas vezes manifestada na procura por pertencer e ser aceito pelo grupo social no qual se insere. E, exatamente nesta procura reside a mola propulsora do longa “Aos Treze”, uma mordaz crítica social exposta pela diretora Catherine Hardwicke e notavelmente protagonizada pela dupla de jovens atrizes  Rachel Evan Wood e Nikki Reed.

A diretora tem poucos longas no seu currículo, mas dois merecem destaque: a origem da saga dos vampiros adolescentes “Crepúsculo”, e o criativo e esteticamente belo: “A Garota da Capa Vermelha”. Hardwicke tem demonstrado tendência para abordar a psique adolescente, os problemas e inquietações dos jovens nesta idade, porém, em nenhuma das obras acima citadas o aprofundamento psicológico e social é tão forte como, no citado “Aos Treze”.

No próprio trabalho do pôster do filme já é exposto uma pequena parcela do que o espectador vai ver. Wood e Reed estão com as línguas à mostra numa evidente dupla interpretação entre o piercing (a rebeldia e transgressão) e uma pílula (a busca inconsequente pelo prazer por meio das drogas).

A adolescência e a busca de aceitação pelo grupo.


Em síntese, “Aos Treze” é um período da vida de Tracy (Wood), adolescente mimada pela mãe (Hunter) em consequência do abandono da família pelo pai e do afastamento total deste. Ao buscar suprir a família com afeto a mãe infantiliza a filha vestindo-a com roupas e acessórios ingênuos o que faz com que Tracy seja constante alvo de chacotas no colégio.

Para buscar a aceitação no grupo das adultas, Tracy faz qualquer negócio. Em decorrência de um furto conquista a amizade de Evie Zamora (Reed), que, também inconsequente, irá conduzir a jornada de ambas rumo aos prazeres da vida adulta. Ocorre que, como geralmente acontece, as adolescentes inexperientes e despreparadas terminam sendo usadas e abusadas pelo grupo de rapazes que buscam conquistar.

Porém, Hardwicke vai mais a fundo. Ao focar o mundo pelos olhos de Tracy, expõe a fragilidade e autodestruição que acomete todos os personagens que a circundam. Pouco a pouco o espectador percebe que as “jovens” nada mais são do que a porta de entrada para um abismo que conduz a uma sociedade marcada pelas drogas, fugas, carência e insatisfação com a péssima situação social dos personagens.

A cumplicidade entre a dupla central.


O filme então cresce para a belíssima cena final onde a comunicação entre mãe e filha ocorre numa catarse comovente. Apesar da ótima interpretação de Wood, Holly Hunter mostra , com imbatível superioridade por que é uma das grandes atrizes de sua geração. Seus gestos são puros, doces, fortes, e carregados de expressividade. 

“Aos Treze” embora inicie com um filme de jovens, aos poucos se assemelha com obras como Christiane F. Porém, é no seu terceiro ato que é disparada uma metralhadora de críticas conta todos, impotentes e imersos em uma conjuntura social cujo resultado é o comportamento inconsequente dos adolescentes.

E, ao final, percebe-se que “Aos Treze” não é só a idade das duas protagonistas centrais, mas a metáfora da “idade psíquica” de todos os personagens. Desamparados e incompetentes ao lidar com os revezes da vida todos apresentam despreparo e ingenuidade.
“Aos Treze” é uma obra contundente e as reflexões que desperta no espectador são duradouras. Nota 8,5.

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