domingo, 24 de junho de 2012

Branca de Neve e o Caçador - um genial retorno à esência perdida dos filmes medievais! (nota: 10,0!)
Estou escrevendo este comentário no calor da emoção. E não tem outra forma de fazê-lo. Acabo de assistir ao maravilhoso "Branca de Neve e o Caçador". Estou em êxtase completo! Uma das sensações mais legais que posso experimentar é sair de um filme com a sensação de que ele cumpriu totalmente sua missão. Pois bem: "Branca de Neve..." cumpre! E muito mais do que eu esperava! Esqueça tudo que você assistiu em termos de filmes medievais depois do marco "Excalibur" - tudo o que veio depois (exceto o primeiro Conan, que, na realidade não é medieval, assim como os ótimos 300 e a trilogia "Senhor dos Anéis") não chegou perto do clima e da essência da lenda do Rei Arhtur dirigida por John Boorman. Esqueça tudo desde o razoável "Gladiador" até os péssimos "Rei Arthur" e "Cruzada". "Branca de Neve..." retoma o rumo perdido desde os anos 80 e o diretor, o estreante Rupert Sanders volta à essência antiga. Desde o trailer eu já tinha noção de que o filme seria excelente e ao inciar a projeção a beleza tomou conta da tela do início ao fim. Sem "truquinhos Ridley Scott em câmara lenta", sem "olhinhos arregaladinhos Russell Crowe", sem "vozinhas graves sou machão" (exceto algumas coisas do Chris Hemsworth - que mesmo assim desempenha muito bem seu papel). Aqui a disputa é entre as mulheres e as duas "feras" mostram as garras de verdade! Lindíssima adaptação do conto de Branca de Neve o filme é tenebroso, sombrio, realista (até onde pode), fantasioso (idem), poético e...sério. Não tem piadinhas como na ridícula adaptação da Branca de Neve feita pelo Tarsem Singh (UGH!)

O genial filme de Sanders é mais ou menos o "Senhor dos Aneís" do gênero (claro, guardadas as devidas proporções da produção) e é impecável do início ao fim.
As cenas de ação são à moda antiga - orgânicas e sem caricaturas
e câmara lenta.
Kristen Stewart tem melhorado cada vez mais como atriz.
Demonstra paixão, melancolia, fúria, desespero... 
Claro que se o comentário não fosse ficar muito longo caberia uma análise mais psicanalítica dos personagens - a disputa entre duas fêmeas pelo trono, a disputa entre  filha e madrasta, a sucumbência do homem frente à beleza da mulher, o uso da beleza pela mulher como forma de vingança. Tudo tratado em alto nível. Mas não podemos esquecer que estamos tratando de cinema e a emoção é o sentimento mais importante que brota na tela, como o cinema deve ser.  Os vilões são excelentes com destaque para o irmão da rainha. Focando as cenas em closes, inclusive nos dentes do ator, a presença deste é assustadora como um verdadeira marionete da rainha, pronta para matar. Os sete anões aqui são representados magistralmente (pela primeira vez no cinema vejo uma adaptação de Branca de Neve que não caracteriza os anões como tipos circenses). Ian McShane, Bob Hoskins, Nick Frost e outros dão vida e força aos personagens. Os cenários são lindos: sombrios e assustadores; belos e lúdicos; frios e brancos muitas vezes contrastando com um vermelho carmim deixando um efeito espetacular.

Kristen Stewart cada vez mais se destaca como atriz. Sua Branca de Neve tem paixão, melancolia, fúria, desespero, amor, saudade... com olhos muito expressivos ela compõe a personagem que é humana e o retrato da bondade e pureza sem ser exageradamente maniqueísta. O elenco de apoio é prefeito e as adaptações feitas no roteiro são inteligentíssimas, como a aldeia das mulheres que não ousam ser belas para não afrontar a rainha - uma das ideias mais belas da adaptação. 
Charlize Theron protagoniza uma excelente vilã: assustadora,
profunda e real

Enfim guardei um espaço nesta terceira parte para falar da espetacular Rainha vivida pela maravilhosa Charlize Theron. Se Charlise foi o grande "desperdício" do filme Prometheus, aqui ela entrega um papel para "indenizar" o público por mais 10 anos. Sua composição da Rainha é perfeita! Os olhos da fera são profundos, assustadores. Sua fúria é orgânica, real, marcada por um passado de dor e rejeição. Uma personagem com grande profundidade e em minha opinião o grande brilho de filme é dela. Magistral e com a elegância e crueldade necessária a Rainha assume o trono com autoridade e força como se espera de uma vilã. Dá pena da Rainha personificada pela Julia Roberts (aliás dá pena de tudo no filme ridículo do Tarsem). Além disso é uma das oportunidades de ver Charlize lindíssima talvez como nunca em sua careira! Eu já a indicaria ao Oscar do ano que vem - só não sei se de atriz ou coadjuvante tamanha a força que sua presença assume na tela.
Enfim, me apaixonei pelo filme - desde já é filmoteca básica. Quero comprar em DVD e ver de novo mas não logo, para não perder o sabor que a primeira vez me causou. Fui às lágrimas várias e várias vezes no filme. Desde a cena de abertura. Não só o visual é lindo como a sensacional trilha sonora de James Newton Howard (que vou comprar assim que encontrar). É comovente! E ao final, quando achei que deveria ter levado vários lenços para o cinema vêm a cereja do bolo - os belíssimos créditos final ao som da nova e perfeita canção da melhor banda da atualidade - Florence + the Machine. Aí o coração não aguentou. Pela primeira vez não escondi as lágrimas do público na saída de um filme. Não precisava - pelos aplausos que ouvi ao final e pelo silêncio durante toda a projeção percebi que o filme era um espetáculo tão cativante que todos compartilhávamos a mesma emoção. Nota 10,!