segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Siouxie and the Banshees - Nocturne: delírio hipnótico embalado por mantras psicodélicos.


Estava eu há alguns dias no maior aconchego do meu quarto reorganizando minha coleção de DVDs e o que encontrei? Um raríssimo show que comprei este ano em Buenos Aires. Acreditem: consegui uma ponta de estoque, em uma loja, do show "Nocturne" do grupo “Siouxie and the Banshees”.


Desde 1987 que eu queria ver esse show na íntegra e ainda não tinha tido a oportunidade. Assisti ao show e não resisti a fazer o seguinte comentário (originariamente publicado no Facebook e revisado para esta publicação):

Nos meados dos anos 80, aqui no Brasil, o público, cansado da superexposição do “Heavy Metal” que ocorreu após os shows realizados aqui pelo “Van Halen” e pelo evento “Rock In Rio I” voltou sua atenção para a onda britânica musical que tinha sido revelada com a apresentação do U2 no “Live Aid”. O novo estilo foi batizado de “Neo Psicodélico”. Uma derivação natural do Punk, com influências góticas e eletrônicas somadas ao Pop e algumas coisas que lembravam Kraftwerk e Gary Numan.

Tal estilo não surgiu na referida época, já vinha derivando do movimento Punk. E as manifestações que começaram a ocorrer após a estética Punk. O movimento recebeu o título – evidente - de "Pós-punk". Uma dessas derivações foi a fusão do Pós-Punk com ecos de melancolia. Surge então o “Pós-punk Gótico”, que cito como principais representantes o “Bauhaus” e “Siouxie and the Banshees” (banda de onde mais tarde iria sair o introspectivo Robert Smith fundador do “The Cure”).

Saliento que o pós-punk gótico não veio após os “New Heavies” (ou NWOBHM) e, sim, cresceu paralelamente a esse estilo. O que houve foi que o público brasileiro é que direcionou suas atenções para esse gênero. O surgimento do "Pós-Punk" é mais antigo - do final da década de 70.
Continuando, esta atenção do público nacional ao refrido estilo rendeu frutos como as bandas “Legião Urbana”, "Plebe Rude", “Zero”, e outras um pouco mais melancólicas do que os “Kid Abelhas” da vida...(não há conotação pejorativa nesta afirmativa. Destaco que sou fã incondicional do Kid Abelha – na fase “educação Sentimental”. Este comentário serve apenas para contextualizar o surgimento das bandas).

Pois bem, este estilo musical, hoje fossilizado nos anais da historia dos anos 80 (ignorado pelas novas gerações) se notabilizou pelas melodias sem regramento harmônico, longos efeitos de echo, flanger, chorus, ruídos,  cacofonias, microfonias e acidentes sonoros que perturbassem a mente do ouvinte.

É exatamente isso o que encontrei no show "Nocturne" da banda sui generis "Siouxie and the Banshees".

Com estilo único, extremo carisma da vocalista Siouxie Sioux e uma cozinha de fazer inveja a qualquer “Good Charlotte” que se diga “deprê”, o “Siouxie” é uma forte expressão na corrente musical citada.

O Baterista (com "B" maiúsculo mesmo) extremamente profissional e criativo Budgie (marido da Siouxie), o extraordinário baixista Steve Severin e Robert Smith, nas guitarras, completam o formação  em grande estilo.

A banda leva o Royal Albert Hall à hipnose completa em um espetáculo de luzes e sons absolutamente delirante. A voz de Siouxie parece entoar mantras que induzem o ouvinte a uma atmosfera que mescla a destruição da arte gótica pela urbanidade "noise" do final de década de 70 e da década de 80.

O show cresce em luzes com presença cênica da líder do grupo que demonstra uma expressão corporal muito intensa.

Bombástico é o final da experiência onde as microfonias de Robert Smith são enterradas vivas pela cortina de fumaça e luzes que fecha o espetáculo.

O ruído fica na cabeça e nos ouvidos, quase tão alto como a saudade daqueles tempos em que a música era mais uma filosofia de expressão artística completando a personalidade do compositor do que nos dias atuais, em que tudo é tão polido, tão processado, profissional, “preset”, não deixando qualquer espaço para algo diferente, quebrado, inovador, orgânico.

Quem viveu lembra com saudade. Quem não viveu dificilmente vai entender a filosofia daquela época anárquica, uma vez que não ficou gravada no inconsciente coletivo como ficou a geração “Hippie”.

Nos anos seguintes o grupo “Siouxie and the Banshees” lançou seu álbum mais famoso, o genial “Tinderbox” e estourou com o sucesso “Cities in dust”. O álbum, mais adocicado, mais suave, mas mantendo complexidade de arranjos, é um trabalho diferente do impacto visceral apresentado aqui, porém, serviu para ativar a vendagem de discos da banda.
Tinderbox - sucesso comercial nos anos 80.

Entretanto, como o estilo do grupo não era direcionado às grandes massas, como no caso do U2, após “Tinderbox” a banda se enclausurou sendo apreciada apenas pelos verdadeiros fãs, estes sim (grupo no qual me incluo) têm o privilégio de buscar e conhecer o material que até hoje eles têm produzido. Saleinto que o grupo “Siouxie and the Banshees” hoje produz um tipo de música mais difícil, intrincada e cacofônica ainda. Para poucos.

Aos que se interessarem pelo estilo, quando se depararem com o DVD “Nocturne”, vale comprar, certamente. Para quem não conhece, é possível assistir no YouTube (há bons trechos disponíveis).

Quem viveu a época achará ótimo para matar a saudade. Para quem não conhece é uma grande oportunidade de conhecer uma das bandas mais significativas do "Pós-punk" devido à pureza de seu estilo.

Nota 10,0 sem dúvida.

domingo, 30 de outubro de 2011

Corações Perdidos: filme comovente discute culpa, companheirismo e tolerância com mensagem otimista.

CORAÇÕES PERDIDOS – de Jake Scott.
Corações Perdidos (Welcome to the Rileys)– de Jake Scott.
A cena de abertura de corações perdidos já prediz o que o espectador vai assistir: um carro em chamas. O fogo pode ser considerado um elemento de transformação. Destrói o antigo e prepara o nascimento do novo. É assim com a Fênix – ave mitológica que renasce das cinzas. Tal afirmativa é perfeitamente aplicável aos personagens do longa “Corações Perdidos” (tradução adaptada de “Bem-vindo à casa (ou à vida) dos Rileys”), drama melancólico no qual o renascimento parece ser a única e possível alternativa para seus protagonistas.
O diretor Jake Scott, tem a quem puxar. Filho de Ridley Scott (de “Alien”) e sobrinho de Tony Scott (de “Fome de Viver”). Apesar de pupilo destes dois grandes estetas e publicitários, absorveu deles a qualidade técnica e, neste seu longa de estréia, demonstra maior maturidade do que os seus mestres ao abordar relações humanas, tema menos evidenciado nas obras do pai e do tio. Tende a superá-los nesse aspecto. Seu filme apresenta uma profundidade que o diretor privilegia em detrimento da simples beleza estética visual.
 (ATENÇÃO: AOS QUE NÃO ASSISTIRAM AO FILME E NÃO DESEJAREM QUALQUER REVELAÇÃO SOBRE A HISTÓRIA ESTE PARÁGRAFO DEVE SER PULADO) A história, em princípio, não é tanto original. Seu desenvolvimento é que leva a novos questionamentos. Uma abordagem diferente de um problema já muitas vezes apresentado no cinema: O casal Doug (Gandolfini) e Lois (Leo),  despedaçado pela morte acidental da filha enfrenta uma crise no relacionamento. Ele viaja para assistir a um congresso e, na busca por fugir dos contatos sociais, insuportáveis, refugia-se em uma casa de strip-tease. Lá conhece a jovem Alisson/Mallory (Stewart) desamparada e sozinha que luta em situações muito difíceis. Ao decidir depositar seu carinho e cuidado nesta órfã ressurge seu interesse pela vida. Este ato irá desencadear uma profunda modificação na vida de todos trazendo a cada um intensas reflexões sobre suas escolhas e os respectivos resultados.
O Filme é lento, porém, nunca monótono. O ritmo pausado destaca as nuances de interpretação do trio de protagonistas. As situações provocam reflexões e os personagens são complexos, ora compreendendo o estado de coisas em que vivem, ora buscando intervir tentando alterar a dura realidade que a vida a eles impôs.
O trabalho dos atores é fascinante: Melissa Leo já indicada ao Oscar por “Rio Congelado” e vencedora este ano na categoria Atriz Coadjuvante por “O Vencedor” é uma atriz extraordinária. É notável o complexo de emoções das quais a atriz é capaz com a sua grande  aptidão técnica. James Gandolfini, conhecido por seu trabalho na série “The Sopranos”, é um ótimo ator e aqui surge como um verdadeiro “gigante gentil”. Diretamente proporcional à sua grande estatura física demonstra ser um intérprete capaz de emoções genuinamente verdadeiras. É difícil não se emocionar com suas lágrimas (e a busca por contê-las) quando se refugia na garagem em busca de seu isolamento para reflexão. E Kristen Stewart, notabilizada pela personagem Bella da saga “Crepúsculo”, brinda o público com uma interpretação ao nível da dos veteranos. É perfeita a cena em que ela, contendo as lágrimas, se ressente dos ensinamentos de Doug ao ensiná-la a arrumar a cama, na busca pelo resgate de algo de valor em sua história pessoal.
Destaco algumas cenas: A belíssima e verdadeira troca de carinhos no de reencontro do casal quando Lois chega à cidade onde está Doug e este vai ao seu encontro. A cena logo no início em que Doug vai ao cemitério e surpreende-se com as lápides. E o enquadramento estático do beco por onde adentra Alisson/Mallory perto do final quando o casal, aguarda a volta da “filha adotiva” para, evitando buscá-la e cometer duas vezes o mesmo erro, amargamente aceitar  que a realidade é bem mais árdua do que a ilusão de ambos em compensar o passado.
Lindíssimo filme que nos faz pensar sobre as perdas, nossa (in) tolerância e o respeito às decisões alheias, “Corações Perdidos” é uma obra que discute a dor, o perdão, o amor e o companheirismo. Após a projeção o público também “ressurge das cinzas”, modificados, tanto quanto os personagens, com os corações profundamente tocados de lágrimas, perdão, respeito e um leve otimismo. Nota 9,0.    

UFO - The Visitor. Os senhores do Hard Rock mostram que ainda sabem fazer grandes melodias.


UFO – the Visitor
O UFO continua na ativa. Não preciso mais falar do grande apreço que tenho pelo grupo inglês – já que no comentário do disco “Obsession” esgotei os elogios genéricos ao grupo. Estou aqui comentando o mais recente álbum deles. Trata-se de uma obra mais leve do que o UFO costuma fazer, mas, nem por isso sem o padrão de qualidade da banda britânica.
O UFO está com a mesma formação já há um bom tempo – creio que 10 anos aproximadamente. Porém, 75% do grupo é formado pelo time original, dos primórdios de sua existência. O som mudou um pouco, as guitarras foram atualizadas por conta do virtuoso Vinnie Moore, guitarrista de mão cheia (o UFO, tal qual Ozzy Osbourne, sempre contou com “mestres” das 6 cordas) o que faz com que a banda seja objeto de interesse dos guitarristas mais novos, que, aqui encontram um casamento perfeito entre o uso da técnica atual com a essência musical dos veteranos rockeiros.

Porém, “The Visitor” é um disco relativamente “morno”. Belo em suas melodias, mas carece um pouco de momentos de ápice. O disco sucedeu o anterior “The Monket Puzzle” que trazia uma proposta mais “Heavy”. Aqui o UFO ameniza sua força, mas, mantém a capacidade melódica pela qual é conhecido.
A obra abre com um belo solo de slide guitar seguido de uma passagem acústica. A voz de Phil Mogg continua perfeita! É uma boa introdução. Peso na medida certa. O baterista Andy Parker, como poucos, segura o ritmo com o coração de que uma boa banda necessita. Na segunda faixa, “Saving me” o UFO demonstra que ainda é uma das bandas que melhor confere “alma” aos seus trabalhos.

Destaco o trabalho de timbragem das guitarras – limpas e pesadas. Os harmônicos do instrumento não sofrem qualquer achatamento com o uso da distorção, como ocorre em muitos trabalhos lançados atualmente que soam magros e sem vida.

O disco segue apresentando temas de qualidade impecável. Os temas são bem cantáveis, porém, como já dito, carece um pouco de pique e um andamento mais veloz.  

A lentinha “Forsaken” é apenas razoável. A faixa mais fraca do disco. O UFO é conhecido por suas musicas românticas e lindas, mas, “Forsaken” não faz jus à reputação da banda. Se fosse necessário remover alguma música do disco com certeza seria esta.

Perfeita mesmo é “Stranger in Town” que fecha o disco demonstrando que a melhor banda do planeta (em minha opinião) ainda tem gás para fazer um respeitável disco.

Ritmo, peso, rock’n roll cru. É assim que se faz! Lamento a ausência do UFO no Rock In Rio na mesma noite do Motorhead. Seria uma grande oportunidade de oferecer à platéia uma ótima pós-graduação em hard rock. Para quem não conhece o que houve na década de 70 já seria o suficiente para afirmar: “já estive em um show de rock”.

Enfim, “The Visitor” não se inclui entre as obras primas do UFO. Lembra a fase dos álbuns “Mechanix” e “Making Contact”, mas, com suas belas melodias e, diante do panorama atual, qualquer trabalho da banda vale 10 vezes mais do que a compra de muita coisa nova que está nas prateleiras. O disco pode não ser tão pesado e agressivo como o excelente e anterior “The Monkey Puzzle”, mas, demonstra bem o que acontece quando os senhores do hard rock resolvem pegar seus instrumentos e aplicar uma lição aos moleques de hoje em dia. Nota: 7,5!

sábado, 29 de outubro de 2011

UFO - Obsession. A estridente face melódica do Heavy Metal.


UFO – Obsession
No final de 1980, eu, a recém estava me informando sobre o que seria “esse tal de rock’n roll” e uma revista da época publicou uma matéria sobre o estilo “Heavy Metal Rock”. Uma das fotos da reportagem que me despertou a curiosidade foi a do UFO. Gostei do nome, combinava com rock pesado e voador (tanto quando Led Zeppelin).

A partir daí comecei a querer ouvir que tipo de som pesado aquela banda fazia. O único material que eu já tinha visto nas lojas era um disco chamado “Obsession” cuja capa era muito interessante. Os membros do UFO com bolhas (que pareciam de mercúrio) nos olhos, narizes e ouvidos – como se estivessem possuídos por uma força alienígena. Ao centro da capa apenas a foto do guitarrista Michael Schenker apresentava o rosto normal.

Ao passar as férias em Itajaí meu irmão deu uma passada em Balneário Camboriú e comprou o LP. Ouvimos logo que chegou. Gostei logo de cara.
“Only you can rock me” – faixa de abertura – me atordoou completamente – o solo de Michael Schenker é maravilhoso. Agudo, cortante, melódico, lindo! Perfeito! É impossível suprimir qualquer nota. Considero o melhor solo de guitarra que já ouvi.

“Pack it up and go” é uma violência sonora. Um verdadeiro soco no tímpano. A guitarra estridente de Schenker sola o tempo todo enquanto a bateria de Andy Parker soa alto e com autoridade.

Para acalmar um pouco o clima “Arbory Hill” é linda! Um maravilhoso solo de violão com acompanhamento de mellotron - entra na hora certa demonstrando que não se trata de uma banda comum, mas, trata-se de um trabalho do mais alto nível.

Em seguida a pesada e melódica “Ain’t no Baby” traz novos elementos ao disco – pulsação lenta e perfeita melodia. Um dos solos de guitarra em que Schenker soa mais agudo e dilacerante. Deve ser ouvida em volume alto (como todo o disco).

O lado 1 (em vinil, obvio) fecha com um clássico – “Looking out for #1”. A faixa aproxima o UFO do rock progressivo. É trabalhada, muito bem arranjada. Demonstra a sofisticação dos músicos e principalmente de Paul Raymond – tecladista e guitarrista. Seu arranjo no piano é emocionante, lírico e harmonicamente perfeito!

O UFO abre o lado 2 de “Obsession” com o peso de “Hot’n ready” – arena rock pesado de primeira linha. O solo rapidíssimo e com fraseado em pentatônicas dita a força da canção. Para levantar a galera em qualquer show.

“Cherry” é outro clássico – nesta aqui quem se destaca é o baixista Pete Way que delimita o tema com acordes no baixo. Contrastando partes lentas e dinâmicas com refrãos de alto pique é uma das músicas que até hoje o UFO executa ao vivo – não poderia ser diferente – a música resiste ao tempo.

Um instrumental solo de guitarra não poderia faltar neste álbum clássico. “Looking out for #1 (reprise)” é uma variação da primeira parte com a melodia sendo cantada na guitarra. Schenker demonstra toda sua expressividade e mostra porque é um dos melhores guitarristas do mundo (na minha opinião o melhor de todos os tempos).

O disco segue com as perfeitas “You don’t fool me” e “One more for the rodeo” que só confirmam a regra: peso, melodia, força, energia. Combinam perfeitamente com o disco mantendo o estilo inalterado.

Mas o destaque que fecha o disco é “Born to lose” onde a execução de Michel Schenker é clara, precisa, e sentimental. O disco conclui com esta ode maravilhosa.

Obsession é um disco reverenciado por muitos músicos da cena metal atual. Kirk Hammet (Metallica) é um fã confesso. Os membros do Def Leppard pagam reverências à banda e muitos críticos de Heavy Metal não entendem porque o UFO não tem o memso destaque de Deep Purple, Led Zeppelin, Black Sabbath e Uriah Heep, pois, “o UFO está no mesmo nível de qualidade”.

Sempre me emociono quando vou ouvir “Obsession”. Considero o melhor álbum e o melhor trabalho de guitarras de Heavy Metal já produzido. Marcou a época da minha vida como uma descoberta magnífica. Mesmo quando no Brasil não eram lançados nem eram importados muitos discos estavam saindo no exterior, foi, neste deserto musical, uma obra que me marcou e me emociona até hoje, ou seja, a admiração não foi apenas resultado da carência musical da época, e sim, o valor do disco em si.

Foi a primeira vez na minha vida que o trabalho de um guitarrista fez brotar em mim a idéia de ser um guitarrista (até então meu interesse era o teclado). No ano seguinte - 1983 - assisti ao show do Van Halen em Porto Alegre e vi outro mestre das guitarras ao vivo. Não tinha mais jeito. O coração assumiu o controle. Eu estava decidido que o instrumento elétrico de seis cordas seria minha vida para sempre e minha profissão nas próximas décadas. Graças ao perfeito “Obsession”. Minha Banda do coração. Nota 10.0

Ke$ha no Rock In Rio - mosaico pop alternativo com rótulo dance!

Ke$ha - Kitsch, Pop, "bate-estaca", The Tubes, Marilyn Manson,
Madonna, e Rocky Horror Picture Show - Tudo pelo $ de uma só

Ao terminar o show da Ke$ha no Rock In Rio minha cabeça estava cheia de dúvidas. Publiquei o seguinte comentário em meu facebook que repruduzo a seguir: "..acho que até agora é o (show) que mais coisas tenho para falar, mas, por aqui (facebook) as mensagens são curtas e vou procurar resumir o comentário. inicialmente quando a Ke$ha entrou no show achei péssimo, brega, de mau gosto, coreografias ruins, musica ingênua, 'bate-estaca', figurino pobre....parecia....humm...o filme 'Liquid Sky'...

Aí uma lâmpada se acendeu na minha cabeça: pensei...'se algo é tão ruim, mas tão ruim, mas de tanto mau gosto, tão contrário ao padrão é porque....deve ser bom' (?).

Me lembrei de quando assisti ao filme 'Rocky Horror Picture Show' e comecei a ver as coisas de outra perspectiva.

Aí achei a Ke$ha genial!

Um grande mix de 'The Tubes', 'Alien Sex Fiend','Madonna', 'Beck', 'Lady Gaga', 'Courtney Love', o filme 'Warriors of the Wasteland', terror B, 'W.A.S.P', o filme 'Fantasma do Paraíso', 'Marilyn Manson', o já citado filme 'Liquid Sky'...pensei: 'que diabos! Eu gosto de tudo isso, oras...'.

Aí sim...entrei no clima e achei demais!....meu preconceito derreteu como a maquiagem da Ke$ha e vi ele realmente como ela era - sem aquele glitter todo: uma cantora humilde, uma mulher linda e uma anarquista que estava destruindo a forma no 'show business'. Ou melhor, utilizando os cacos do underground para criar uma estética contrária à das 'Britney Spears' da vida direcionando-se ao mesmo público.

Galera, nota 8,0 para a Ke$ha, não pretendo comprar o disco nem ouvir ela no dia-a-dia, mas aprendi a respeitar esta cantora que está à procura de sua voz própria."

(algumas passagens foram re-escritas para aperfeiçoar o texto original). 

"Não Me Abandone Jamais" discute com bela estética e atuações impecáveis a descartabilidade da vida humana.


NÃO ME ABANDONE JAMAIS – de Mark Romanek.
Ao me deparar com um filme com o título “Não me Abandone Jamais”, com a ilustração do cartaz contendo uma linda foto da Keira Knightley e um close em um casal apaixonado (Carey Mulligan e Andrew Garfield) imaginei logo que se tratava de uma comédia romântica bem ao estilo Jennifer Aniston e Meg Ryan. Veio à minha mente a imagem de um grupo de adolescentes e sua busca pela maturidade sentimental rumo à vida adulta, tudo isso embalado em pensamentos e diálogos sutis e irônicos com notória inteligência, ou seja: a fórmula utilizada atualmente em qualquer comédia romântica. Não fiz o menor esforço para assistir à obra nos cinemas. Eu jamais poderia imaginar a amarga saga que iria vivenciar.
 
Ao iniciar a reprodução do filme em DVD uma cena seca, pesada, lenta, implacável já introduz à chocante abordagem que iria me bombardear. Não irei relatar qualquer cena do filme. Farei apenas breves referências de forma a não estragar a experiência daqueles que quiserem (e tiverem a coragem para) assistir ao filme.
O título do filme engana, e muito. Faz referência à frase da música dos Paralamas do Sucesso – "Meu Erro". Creio que o verdadeiro erro foi do tradutor ao adaptar “Nunca me deixe partir” (título original, pesado e bem escolhido) para o verso da alegre, dançante e festiva canção de Herbert Vianna.
Não há nada de festivo e alegre no filme. A “dança” que os personagens desenvolvem se dá em longas cenas, contemplativas, repletas de pausas onde o excelente trio central de atores desenvolve com extrema competência as reflexões, dúvidas e profundas dores diante do inevitável. A Câmara desliza dando espaço ao espectador para viver, de forma contemplativa e angustiante o universo daquelas pessoas estigmatizadas rumo ao terrível destino.
Como falei não irei relatar, apenas referenciar os grandes momentos na atuação do elenco e na parte técnica. A tocante cena que se passa em uma praia com a belíssima fotografia do horizonte e do cenário. A dura e pesada cena em que Carey Mulligan e Keira Knightley (ambas em notável interpretação) caminham juntas, lentamente por um corredor após um reencontro. E a brutal, e destruidora cena que conclui a abertura – não acredito que um ser humano possa ficar indiferente ao olhar do casal antes do terrível desfecho.
Merece destaque a primeira parte do filme, que engana e ilude ao sermos transportados ao passado dos personagens, imaginando uma infância comum, inocente e bela. A sutileza na interpretação dos astros mirins (Izzy Meikle-Small, Ella Purnell e Charlie Rowe) é perfeita. Olhares, pausas, dores contidas, a beleza e a dor do primeiro amor...É magnífica a primeira parte do filme e, seu elenco, imensamente responsável por tal qualidade cênica.
O diretor Mark Romanek, conhecido por dirigir clipes musicais de bandas como R.E.M. e Red Hot Chili Peppers, já demonstrou seu talento para retratar a alma humana em “Retratos de uma Obsessão” excelente filme protagonizado por Robin Williams.

Aqui, Romanek faz questão de conduzir sua obra com lentidão, espaços vazios, olhares. Não tem pressa em dissecar a terrível realidade que assola os personagens. Desenvolve cada emoção para que o espectador perceba a alma humana que habita em tais corpos. Cria uma empatia inigualável nos fazendo sofrer junto com eles como se muito próximos de cada um de nós eles fossem.
Baseado na obra do escritor japonês Kazuo Ishiguro “Não me abandone jamais” discute a fundo valores éticos, a impotência diante de certas situações, o poder do capital, o preço que a sociedade está disposta a pagar pela longevidade e várias outras coisas que a mídia veicula todos os dias, mas, que, diante da nossa distância com tais situações nos tornamos mais apáticos. O filme nos aproxima destas questões teóricas nos colocando a prática diante dos olhos e do coração.
Fiquei em estado de choque vários minutos após o filme (tanto que só escrevi este texto no dia seguinte). Não sei se terei coragem de rever esta experiência. O filme segue a intensidade de “peso” de um “Johnny vai à Guerra” ou “O Franco-Atirador” (ressalvados os estilos de cada uma dessas obras). Obriga-nos a questionar o que fazemos contra tudo e contra todos. O quanto nós nos aproveitamos da natureza, das plantas, dos animais criando-os apenas para nos servir. Questiona a importância do problema do outro ao confrontá-lo com nossas próprias necessidades e o quanto estamos dispostos a abrir mão delas. Conforme a vida passa a inquietação dos personagens ressoa em todos nós. O ser humano é frágil, indefeso, sozinho e absolutamente transitório, por isso as perdas nos abatem tanto. E “Não me Abandone Jamais” nos coloca próximos desta realidade, dura, pesada e provavelmente real, agora ou em um futuro próximo, e, por isso, tão forte. Nota 10.0.

               

Tetro - A nova obra do mestre Coppola atesta sua grande forma.

O trio de protagonistas de "Tetro".
Miranda será responsável por remover as barreiras entre os irmãos
TETRO de Francis Ford Coppola.
Acabo de assistir ao mais recente filme do veterano Francis Ford Coppola.
 
 
Coppola é um dos gigantes do cinema. Contemporâneo de Scorsese, DePalma e de outros nomes que despontaram no início dos anos 70, é autor de um catálogo marcante. Em meus 10 filmes favoritos está o espetacular “Apocalypse Now” - a ópera definitiva sobre os efeitos dos conflitos bélicos junto à fragilidade do coração humano. Anteriormente Coppola tinha atingido seu ápice ao dirigir sua obra prima – o Poderoso Chefão – e o fez com tamanho rigor artístico que foi, nas três partes da Obra, indicado ao Oscar levando os prêmios de melhor filme em 1973 e 1975. Na verdade não é isto que atesta a qualidade do filme, pois, uma premiação que opta por coroar Kramer VS, Kramer em detrimento do já citado Apocalypse Now não pode se intitular de “premio máximo do cinema”, servindo mais como indicador de vendagem de pipoca. Entretanto, a título de grande público, pelo menos, é um norteador de qualidade para veicular aos corações e mentes do mercado consumidor obras que tem um quilate mínimo de excelência.
Coppola cometeu alguns deslizes em sua carreira, como “O Homem que Fazia Chover” e perdeu um pouco o senso de ritmo em “O Fundo do Coração. E, confesso que, ao buscar “Tetro” na locadora, imaginei que veria um filme acadêmico de um diretor que já não tinha mais o que apresentar sendo mais como um hobby de aposentadoria do que uma obra propriamente dita do cineasta.
Porém, ledo engano, “Tetro” inicia com uma abertura em tom de sonho, com tomadas diagonais, o que demonstra que o diretor não está realizando um trabalho burocrático. Ao contrário, hipnotiza-nos com suas imagens com o nítido intuito de quebrar nossa relação com o mundo externo e nos inserir em seu drama psicológico.
A história da procura do irmão caçula pelo mais velho desaparecido trilha uma estrada de personagens enigmáticos, estranhos, quase surreais, mas concentra a tensão no trio central.  Os irmãos Angelo (Vincent Gallo) e Bennie (Alden Ehenreich), são como caixas contendo as peças de um enigma hermético no qual a participação muitas vezes intrusiva de Miranda (Maribel Verdú)serve como a chave que irá abrir as portas entre os irmãos e estabelecer as pontes entre suas histórias pessoais para entregar um final de árdua incisão. Assim, Miranda explicita de forma extremamente eficaz as motivações de cada personagem  preenchendo as lacunas abissais entre suas as conexões.
Falar mais sobre a história pode ser perigoso arriscando revelar qualquer detalhe que estrague o ato de assistir à obra, portanto, vale mais ressaltar algumas cenas (QUEM NÃO ASSISTIU AO FILME LEIA DEPOIS DE ASSISTIR): a direção dos atores é impecável, com destaque para a cena logo no início em que o Bennie lê uma carta e, com o rosto praticamente imóvel, transborda uma emoção guardada há anos. A atuação de Alden Ehenreich é riquíssima em nuances e seus olhos falam por si. Outra cena que me travou a respiração foi aquela se passa em um bar onde após Angelo criar um enigma sentimental sob a forma de um cigarro aceso, Miranda, quase que em silêncio demonstra seu profundo amor num sutil sussurrar enquanto seus olhos se enchem de lágrimas. Mas, a gigantesca cena que ilustra o cerne da história é manifestada na forma de um balé surrealista no qual interagem as ondas do mar. Coppola usa partes de sua linguagem do filme “O fundo do coração” e aqui, sim, cria uma cena de intensa profundidade. Aliás, todos os balés que simbolizam as passagens conflituosas do decorrer do filme são maravilhosos com construção cênica e coreográfica irretocáveis. Um verdadeiro delírio aos olhos e ao coração.
Ambientado em Buenos Aires e, por isso mesmo, condizente com a atmosfera que a capital da “plata” possui, o filme tem fotografia belíssima e todos os (sutis) efeitos apresentados só tendem a amplificar o significado de cada aparição. Como, por exemplo, os brilhos nas montanhas da Patagônia que, em certo momento criam um elo com a memória interior nos olhos do protagonista.
Com a atuação um coadjuvante de extrema perfeição técnico-interpretativa - o veterano Klaus Maria Brandaurer - Coppola sedimenta as peças de seu quebra-cabeça. Ele é o olho do furacão interior que corroí a personalidade de Angel. Sua presença na tela confere a dualidade necessária entre o pai e rival que acionará a ignição da catarse artística formando a personalidade de Angel. Nada mais vale falar sobre o personagem. Só vendo para compreender.
Enfim, “Tetro” é uma obra ímpar. Em 1997 quando Kubrick, (na minha opinião) o maior cineasta da história nos deixou, afirmei que com ele o cinema também havia nos deixado. Eu havia esquecido de que a geração que estourou no final dos anos 60 e durante os 70 como, por exemplo Scorsese, Milos Forman, Cronenberg e outros, ainda se encontra na ativa. Assim, de vez em quando, nos momentos em que uma dessas vozes se prepara para pronunciar um novo trabalho, com certeza será criada uma nova estética cinematográfica, diversa das explosões, clichês, efeitos sonoros, super-tiras e heróis irônicos, e, montagem acelerada com que hoje em dia a tela nos bombardeia. Ainda existem cineastas que respeitam o cinema como expressão artístico-filosófica. E fiquei extremamente emocionado e agradecido pelo Mestre Coppola me lembrar disso nos dias atuais. Nota 10.00!

Amy Lee

Amy Lee - Olhar Profundo....

Após o impecável show do Evanescence - o novo trabalho do grupo finalmente chega às lojas. Apesar de já disponível para venda na internet, o disco sem titulo, apenas chamado "Evanescence" ainda não foi lançado no Brasil. As lojas já adiaram o lançamento do trabalho 2 ou 3 vezes, até o presente momento ainda não chegou por aqui.

Assim  que minha cópia estiver em mãos devo devo publicar o comentário por aqui - estou bastante curioso e empolgado. Sou um verdadeiro fã da Amy Lee da banda. 

Só por curiosdade, para escalrecer o comentário do Beto Lee (que não é primo da musa) nos bastidores do Rock In Rio. Pô Beto!?! Da prá ver bem que não são lentes. OK? 

Katy Perry no Rock In Rio

24 de setembro – Rock In Rio IV:


Terminou o show da Katy Perry.
Nota 9,0. Não gosto muito de shows com bailarinos mas ela foi extremamente profissional. Grande show! A voz começou um pouco prejudicada...mas já na terceira música a competência técnica imperou!
Beijos Katy...perfeito!
Em termos de musical os americanos são excelentes. Coreografia impecável!
Banda coesa. Direção do espetáculo quase imbatível (claro ressalvadas Lady Gaga e Madonna) 
"I kissed many girls and I always like it, Katy. You're right!"!!!(heheheheheh)
(postado no Fecebook logo após o show no calor da emoção - com peqeunas revisões do texto. Em breve o cometário "sério" do show).

Slipknot - porrada mascarada de terror!

Slipknot no Rock In Rio:

Caras!!! Eu sabia que o Slipknot era muito porrada, mas nunca tinha visto ao vivo.
Posso não ser um grande fã do estilo, mas, pensei muito durante o show e não posso ser injusto e dar uma nota menor que 10,0. Eles são extermamente profissionais. O som é muito complexo. Pode não ser tão radical como um Slayer, masm não tem como tirar o valor dos caras. O dia de hoje já está para sempre escrito na história do Rock In Rio. Estou com meu fone bem alto e estou com a cabeça zunindo. Slipknot rules! que venha Metallica! (Postado no Facebook logo após o show - com correções. Em breve comentário mais detalhado.)