domingo, 23 de fevereiro de 2014

ROBOCOP: José Padilha ensina Hollywood como fazer um filme de ação com personagens reais e conteúdo!


Lembro que fui um dos primeiros que contestou bastante essa refilmagem - falei direto que não ia gostar - e que o Robocop original era insuperável. Eu jamais aceitaria um Robocop "digital" com efeitos em computação! O único ponto positivo - José Padilha - que considero um Grande diretor! Mesmo!
Bem, fui ver a nova versão e...............gente Robocop é excelente!!! (o comentário será reduzido para evitar spoilers) Começa parecido com o primeiro, mas conforme o filme rola a história se revela bem mais profunda! A política é mais trabalhada na história e, se no primeiro a corrupção já é um elemento da realidade logo de cara, aqui ela se agrava em decorrência da decisões políticas dos personagens no roteiro (que aliás é muito bem escrito - e menos preso à forma tradicional do que o primeiro!).
Na nova versão os personagens são bem mais reais, os atores são excelentes (tá...é difícil superar a bandidagem do primeiro – são ótimos) mas as personagens são bem mais tridimensionais e pasmem: até Michael Keaton entrega uma atuação ótima (só em alguns momentos ele “Jimcarreya” - novo verbo)! Gary Oldman está perfeito e o novo Murphy - Joel Kinneman está muito bem!
O que mais me chamou a atenção é o foco do roteiro na pesquisa científica do novo Robocop - os estudos da equipe são bem profundos e a psique do robô é trabalhada mais a fundo!
Padilha dá um banho no Cinema americano! Foi para lá jogar o jogo deles, nas regras deles, no campinho deles e com a bola deles - e mostrou como fazer Cinema - com conteúdo - coisa esquecida desde o final dos anos 70! Se o necessário para melhorar uma máquina é colocar um ser humano lá dentro - então tá - o nosso Brasileiro entrou na máquina assumiu o controle! A estrutura os estúdios têm - a direção do Padilha só melhorou! 
O Robocop de 87 pode ser insuperável. Faz parte da época. Mas o novo é mais real, e mais humano. Diferentemente das "idiotices" que tenho visto - como "O Ataque" de Roland Emmerich, Duros de Matar e essas porcarias como Red - Aposentados e perigosos e Mercenários, a direção de Padilha se destaca pela inteligência.  Padilha é como Aristóteles numa colônia de cupins. Se o  brasileiro bateu de igual para igual com os de lá - mesmo o Robocop original tendo sido uma obra-prima de filmes de ação - pra mim é vitória nossa! 2 X 1 pra nós! Adorei. O novo Robocop só não ganha 10,0 porque ainda tem ideologia imperialista envolvida - mesmo que Padilha a mostre de forma tão debochada! Nota 9,0! Genial!     


 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Trapaça: Amy Adams brilha junto com elenco primoroso em excelente filme estilo anos 70!

TRAPAÇA: Merece todos os Oscar a que está indicado - e não será injusto se levar cada um deles. Taquicardia, excitação, euforia, tensão, espanto e outros  estados espirituais! Não, não são os carismáticos, multidimensionais e verossímeis personagens do genial "Trapaça" - apesar dos estados acima se aplicarem totalmente ao espetacular elenco do filme. Eles se referem a este que vos escreve! Foi desta forma que saí do filme: tenso, eufórico e etc...! Se o "Lobo de Wall Street" era Scorsese até o osso, "Trapaça" vai até a alma referenciando filmes e diretores da década de 70, mas, repaginados e com a extrema competência na direção de David O. Russel. As imagens são excelentes. A montagem é primorosa e o roteiro gira tanto que dá vontade de ter um controle remoto no cinema para dar uma pausa para respirar de vez em quando.

Tudo é impecável, mas, o grande valor do filme mesmo é o elenco! Todos geniais. Christian Bale dá um banho como um golpista sério, profissional, cauteloso, mas por dentro um grande ser humano - capaz de honrar compromissos familiares e de se apaixonar profundamente. Bradley Cooper é perfeito como o agente egocêntrico e completamente desesperado infantil e inconsequente.  Jennifer Lawrence ...ora É Jennifer Lawrence! Perfeita como sempre, sua personagem tem diálogos de chorar de rir - acredita nas besteiras que diz... E tem uma participação não creditada que não posso revelar quem é - mas é perfeita! 

Porém, Justiça seja feita! A Grande Estrela do filme (com letras maiúsculas mesmo) é a impecável Amy Adams. Uma das grandes Atrizes da atualidade (provavelmente a melhor). Ela pode, deve, merece e VAI ganhar o Oscar. A força nos olhos da atriz é brutal. Quando acusa é muito intensa. Quando chora seus olhos murcham. Quando se apaixona, brilha. Mas em TODAS as cenas (Todas mesmo) em que ela está no quadro há ALMA dentro dela. Há vida lá dentro. Creio que não vejo um entrega tão intensa desde que Naomi Watts fez "21 Gramas". Ela é a luz do filme. Uma cena no toliette com Jennifer Lawrence coloca duas das maiores atrizes da atualidade a contracenar e é absolutamente histórica! Perdi o fôlego várias vezes com a intensidade de Adams e não bastando isto ela ainda esta linda! Perfeita, o que a faz mais bela ainda porque se trata de uma mulher REAL, sem photoshop. apaixonante, sedutora sem ser vulgar, enfim, ela é "A" Atriz do ano - merece a estatueta e acreditem - tem que ser vista na tela grande. 

Aliás, a fotografia do filme é tão perfeitamente "anos 70" que o lugar deste filme é no cinema! Depois de processarem digitalmente em Blu-Ray vai perder a autenticidade. Ufa! Falei bastante mas pretendo não ter entregado nenhum spolier. Corram para o cinema. Um espetáculo desses tem que ser visto sem interromper, pois, piscou perdeu muita coisa da história. Depois de "Boogie Nights" e "Pulp Fiction", mais um exemplar de como é bom se fazer, hoje em dia, cinema de antigamente, que, mesmo com excesso de maquiagem, caras, bocas e roupas não é possível ofuscar o que um ator de verdade tem - intensidade! Nota 10.000,0 (ops, perdão.... me empolguei) retificando: Nota 10,0 (claro) e vamos comemorar cada Oscar que "Trapaça" faturar! Filme assim não se vê todo dia!   

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Highlander - Ótimo filme de aventura dos anos 80 é um excelente workshop de técnica cinematográfica

HIGHLANDER - O GUERREIRO IMORTAL: Assim que terminei de assistir "Nosso Amor de Ontem" fiz um pequeno lanchinho e iniciei uma nova sessão - assistir HIGHLANDER - O GUERREIRO IMORTAL. Pérola dos anos 80 com Chistopher Lambert, músicas do Queen, e direção do genial diretor australiano Russell Mulcahy (responsável por clips de Duran Duran, Kim Carnes e do próprio Queen - entre outros). 

Em plenos anos 80 (por volta de 1985) uma revolução aconteceu na minha vida (e de todos que curtiam Cinema e TV) O vídeo-Cassete entrou definitivamente nas casas. Logo as locadoras estavam cheias de filmes (na época - muitos piratas) e a revista Set começou a ser editada. Consequentemente comecei a entender mais de cinema e não só ser um espectador que tentava descobrir os segredos da sétima arte! 

Porque estou falando isto? Ora, meu diretor favorito (claro - fora Kubrick, Coppola e Scorsese) na época da minha "descoberta da técnica" foi Mulcahy - Assisti várias vezes o hoje raríssimo "Razorback - Garras do Terror" e depois "Highlander" e fiquei alucinado com as imagens que o cara produzia: iluminação com lâmpadas par (estilo show de rock), travellings aéreos, água caindo, fog, contraluz...e uma montagem espetacular. Recomendo a quem quer se iniciar na estética do Cinema a estudar Highlander e, se puder, Razorback - dois workshops de técnica muito didáticos, afinal, todas a virtuose é justificável (as faíscas saem porque houve de fato um curto-circuito, a água cai porque uma caixa dágua foi atingida...) nada está apenas visualmente no local, são consequências lógicas do ambiente. 

Bem, mais algumas palavras sobre o filme: os atores são sofríveis - fora Sean Connery e o genial vilão Clancy Brow (magnífico), Lambert está horroroso e Roxanne Hart e os policiais são terríveis - totalmente sessão-da-tarde. As cenas medievais são exageradas e sinfônicas demais. Erros brutais de estética (ora, num duelo em plena França da época romântica a música é um cravo barroco com contraponto estilo renascentista!?!). 

Mas tudo bem - desligamos o senso crítico e aproveitamos esta maravilha em termos de aventura com ritmo impecável e efeitos especiais de primeira (lembrem - anos 80 - a cena que Campanella fez num jogo em "O Segredo de Seus Olhos" com computação gráfica Mulcahy já tinha feito aqui na abertura do filme sem efeitos digitais...). E a cena mais linda do filme é o romance central de McLeod e Heather ao som da linda "Who Wants to Live Forever" do Queen - de rolar lágrimas! Lágrimas de bárbaro - de macho - bem ao estilo Conan (e muito honestas). 

Uma perfeição de acordo com a época. Saudades dos anos 80 - de Flashdance a Hellraiser - iluminação de show de rock e montagem de videoclips - estética abandonada hoje em função do neo-neo-realismo. Mas com charme irresistível! Para ver e rever de tempos em tempos - e quem viveu que se emocione, pois, as coisas tem que acabar - afinal quem quer viver para sempre? Mas uma espiadinha no passado é sempre bem-vinda! Nota 8,0! (ah - e em termos de técnica de roteiro é excelente)





Nosso Amor de Ontem - Belíssimo drama de amor reflete o Macarthismo com direção impecável de Sydney Pollak e intrepretações ótimas de Redford e Streisand




NOSSO AMOR DE ONTEM: Pronto galera! Mais uma lacuna na minha cultura cinematográfica foi preenchida. Até hoje eu não havia assistido "Nosso Amor de Ontem" de Sydney Pollak e com Robert Redford e Barbara Streisand. O que dizer de um filme da época que mais gosto do Cinema americano (anos 70)? Todo aquele clima, paixões, movimentos estudantis, consciência política (e a história se passa em pleno Macarthismo), a estética da época...simplesmente apaixonante. 

Como não se deixar levar pela linda paixão do casal que mesmo sendo extremos opostos busca aproximação por meio do amor. A química entre Refdord e Streisand (ambos no auge de suas interpretações) funciona muito. O elenco de apoio é maravilhoso (James Woods está genial). E a direção de Pollak não só é tecnicamente perfeita como em termos de ritmo e da condução das cenas é de tirar o chapéu! 

As vidas do universitário-oficial da Marinha (Redford) e da militante anti-fascismo (Streisand) se cruzam se chocam entre a leveza e ao mesmo tempo razão dele que se opõem à fúria e infelixibilidade de princípios dela. Esse fogo, essa tormenta, esse furação que comanda os dois perturba a vida de todos até o final (que não vou contar mesmo! tem que assistir). Filme de Amor sério, com "A" maiúsculo e de grande significação social, "Nosso Amor de Ontem" é um primor em termos de cinema dos anos 70 - década que foi marcado por obras-primas como "Um Estranho No Ninho", "Todos os Homens do Presidente", "Um dia de cão" e muitas outras pérolas do cinema americano! 

Com imenso prazer me transportei de novo para minha década favorita e me deliciei com as belíssimas cenas do filme - em especial quando a personagem de Streisand (indicada ao Oscar) dorme com seu amado bêbado e chora percebendo que ele não sabe em que cama está - e a genial cena da discussão após uma agressao sofrida por Redford num protesto. Maravilhoso - e ainda conta com a lindíssima música-título (conhecidíssima) vencedora do Oscar.  Belíssimo! Cinema da melhor qualidade! Nota 9,0! (perde um pouquinho o ritmo no meio)


sábado, 1 de fevereiro de 2014

Álbum de Família: Elenco excelente em história que remove as cores das lembranças passadas.

ÁLBUM DE FAMÍLIA: Ok, "Álbum de Família" está concorrendo a alguns Oscar (Atriz - Meryl Streep e Atriz Coadjuvante - Julia Roberts). Ok, fui assistir. Ok, não estava com a menor vontade de ver um filme que (eu achava que) trata de "probleminhas familiares" com um elenco escolhido a dedo e que possivelmente iam encenar um "filmezinho aguinha com açúcar" sobre "probleminhas comuns" (estilo revistinhas "Bianca" e afins - ou seja Pulp fiction românticas)! Novelão enfim! 

E sabe o que houve? Fiquei apavorado com a densidade do filme! Não é nada do que eu esperava - problemas sérios, gravíssimos, pesados e personagens mais do que tridimensionais - complexos e carregados de verossimilhança. Ao iniciar a projeção eu estava um verdadeiro "Aborrescente" - com aquela famosa "cara de tédio". Mas, aí, entra em cena a Sra. Meryl Streep - e a coisa mudou. 

Percebi que o filme ia pesar (sem spolilers né gente?), mas, mesmo assim, imaginei que ia seguir o padrão Hollywood - melodrama carregado de compaixão. Mais uma vez me enganei - a depressão se instala a cada cena. Fortíssimo retrato de uma família com sérios problemas. 

O elenco é excelente - Meryl Streep (como sempre) dá um show. Chris Cooper é impressionante. A veterana e espetacular Margo Martingale é maravilhosa (tenho acompanhado esta excelente atriz desde "Paris te Amo" onde ela protagoniza a história mais linda). Adorei Juliette Lewis e até Julia Roberts (que confesso que não sou nenhum fã dela - salvo "O Casamento do Meu Melhor Amigo") está muito bem - MESMO! Julianne Nicholson me surpreendeu (é dela uma das mais belas cenas do filme - em que dirige o carro emocionadíssima - e isto não é um spolier - a complexidade é grande). Só achei fracos: Ewan McGregor, Dermot Mulroney, Benedict Cumberbatch e Abigail Breslin - pois seus personagens não têm grande evidência (posso ter me enganado neste comentário - mas vamos ver o filme mais uma vez...).

O que eu não sabia (passou despercebido) é que se tratava de uma adaptação de uma peça de teatro - mas pude perceber pela movimentação cênica de Meryl Streep que era de fato Teatro filmado (em especial uma das últimas cenas onde ela senta numa escada - percebemos a posição de teatro na sua colocação espacial). 

Maravilhosamente dirigido por John Wells (que eu desconhecia) é uma obra de arte que pode enganar pelo título, afinal, álbuns de família são geralmente formados de boas lembranças. Aqui não! Se esta foto fosse constar em um álbum, este deveria ser trancado e esquecido, pois, remoer o passado pode ser uma experiência traumática, o que tiraria as cores das lembranças, exatamente como as cores do filme - pesadas, pardas e tristes - refletindo a dor e angústia daquelas almas. Nota 10,0!