segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Siouxie and the Banshees - Nocturne: delírio hipnótico embalado por mantras psicodélicos.


Estava eu há alguns dias no maior aconchego do meu quarto reorganizando minha coleção de DVDs e o que encontrei? Um raríssimo show que comprei este ano em Buenos Aires. Acreditem: consegui uma ponta de estoque, em uma loja, do show "Nocturne" do grupo “Siouxie and the Banshees”.


Desde 1987 que eu queria ver esse show na íntegra e ainda não tinha tido a oportunidade. Assisti ao show e não resisti a fazer o seguinte comentário (originariamente publicado no Facebook e revisado para esta publicação):

Nos meados dos anos 80, aqui no Brasil, o público, cansado da superexposição do “Heavy Metal” que ocorreu após os shows realizados aqui pelo “Van Halen” e pelo evento “Rock In Rio I” voltou sua atenção para a onda britânica musical que tinha sido revelada com a apresentação do U2 no “Live Aid”. O novo estilo foi batizado de “Neo Psicodélico”. Uma derivação natural do Punk, com influências góticas e eletrônicas somadas ao Pop e algumas coisas que lembravam Kraftwerk e Gary Numan.

Tal estilo não surgiu na referida época, já vinha derivando do movimento Punk. E as manifestações que começaram a ocorrer após a estética Punk. O movimento recebeu o título – evidente - de "Pós-punk". Uma dessas derivações foi a fusão do Pós-Punk com ecos de melancolia. Surge então o “Pós-punk Gótico”, que cito como principais representantes o “Bauhaus” e “Siouxie and the Banshees” (banda de onde mais tarde iria sair o introspectivo Robert Smith fundador do “The Cure”).

Saliento que o pós-punk gótico não veio após os “New Heavies” (ou NWOBHM) e, sim, cresceu paralelamente a esse estilo. O que houve foi que o público brasileiro é que direcionou suas atenções para esse gênero. O surgimento do "Pós-Punk" é mais antigo - do final da década de 70.
Continuando, esta atenção do público nacional ao refrido estilo rendeu frutos como as bandas “Legião Urbana”, "Plebe Rude", “Zero”, e outras um pouco mais melancólicas do que os “Kid Abelhas” da vida...(não há conotação pejorativa nesta afirmativa. Destaco que sou fã incondicional do Kid Abelha – na fase “educação Sentimental”. Este comentário serve apenas para contextualizar o surgimento das bandas).

Pois bem, este estilo musical, hoje fossilizado nos anais da historia dos anos 80 (ignorado pelas novas gerações) se notabilizou pelas melodias sem regramento harmônico, longos efeitos de echo, flanger, chorus, ruídos,  cacofonias, microfonias e acidentes sonoros que perturbassem a mente do ouvinte.

É exatamente isso o que encontrei no show "Nocturne" da banda sui generis "Siouxie and the Banshees".

Com estilo único, extremo carisma da vocalista Siouxie Sioux e uma cozinha de fazer inveja a qualquer “Good Charlotte” que se diga “deprê”, o “Siouxie” é uma forte expressão na corrente musical citada.

O Baterista (com "B" maiúsculo mesmo) extremamente profissional e criativo Budgie (marido da Siouxie), o extraordinário baixista Steve Severin e Robert Smith, nas guitarras, completam o formação  em grande estilo.

A banda leva o Royal Albert Hall à hipnose completa em um espetáculo de luzes e sons absolutamente delirante. A voz de Siouxie parece entoar mantras que induzem o ouvinte a uma atmosfera que mescla a destruição da arte gótica pela urbanidade "noise" do final de década de 70 e da década de 80.

O show cresce em luzes com presença cênica da líder do grupo que demonstra uma expressão corporal muito intensa.

Bombástico é o final da experiência onde as microfonias de Robert Smith são enterradas vivas pela cortina de fumaça e luzes que fecha o espetáculo.

O ruído fica na cabeça e nos ouvidos, quase tão alto como a saudade daqueles tempos em que a música era mais uma filosofia de expressão artística completando a personalidade do compositor do que nos dias atuais, em que tudo é tão polido, tão processado, profissional, “preset”, não deixando qualquer espaço para algo diferente, quebrado, inovador, orgânico.

Quem viveu lembra com saudade. Quem não viveu dificilmente vai entender a filosofia daquela época anárquica, uma vez que não ficou gravada no inconsciente coletivo como ficou a geração “Hippie”.

Nos anos seguintes o grupo “Siouxie and the Banshees” lançou seu álbum mais famoso, o genial “Tinderbox” e estourou com o sucesso “Cities in dust”. O álbum, mais adocicado, mais suave, mas mantendo complexidade de arranjos, é um trabalho diferente do impacto visceral apresentado aqui, porém, serviu para ativar a vendagem de discos da banda.
Tinderbox - sucesso comercial nos anos 80.

Entretanto, como o estilo do grupo não era direcionado às grandes massas, como no caso do U2, após “Tinderbox” a banda se enclausurou sendo apreciada apenas pelos verdadeiros fãs, estes sim (grupo no qual me incluo) têm o privilégio de buscar e conhecer o material que até hoje eles têm produzido. Saleinto que o grupo “Siouxie and the Banshees” hoje produz um tipo de música mais difícil, intrincada e cacofônica ainda. Para poucos.

Aos que se interessarem pelo estilo, quando se depararem com o DVD “Nocturne”, vale comprar, certamente. Para quem não conhece, é possível assistir no YouTube (há bons trechos disponíveis).

Quem viveu a época achará ótimo para matar a saudade. Para quem não conhece é uma grande oportunidade de conhecer uma das bandas mais significativas do "Pós-punk" devido à pureza de seu estilo.

Nota 10,0 sem dúvida.

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