domingo, 30 de outubro de 2011

Corações Perdidos: filme comovente discute culpa, companheirismo e tolerância com mensagem otimista.

CORAÇÕES PERDIDOS – de Jake Scott.
Corações Perdidos (Welcome to the Rileys)– de Jake Scott.
A cena de abertura de corações perdidos já prediz o que o espectador vai assistir: um carro em chamas. O fogo pode ser considerado um elemento de transformação. Destrói o antigo e prepara o nascimento do novo. É assim com a Fênix – ave mitológica que renasce das cinzas. Tal afirmativa é perfeitamente aplicável aos personagens do longa “Corações Perdidos” (tradução adaptada de “Bem-vindo à casa (ou à vida) dos Rileys”), drama melancólico no qual o renascimento parece ser a única e possível alternativa para seus protagonistas.
O diretor Jake Scott, tem a quem puxar. Filho de Ridley Scott (de “Alien”) e sobrinho de Tony Scott (de “Fome de Viver”). Apesar de pupilo destes dois grandes estetas e publicitários, absorveu deles a qualidade técnica e, neste seu longa de estréia, demonstra maior maturidade do que os seus mestres ao abordar relações humanas, tema menos evidenciado nas obras do pai e do tio. Tende a superá-los nesse aspecto. Seu filme apresenta uma profundidade que o diretor privilegia em detrimento da simples beleza estética visual.
 (ATENÇÃO: AOS QUE NÃO ASSISTIRAM AO FILME E NÃO DESEJAREM QUALQUER REVELAÇÃO SOBRE A HISTÓRIA ESTE PARÁGRAFO DEVE SER PULADO) A história, em princípio, não é tanto original. Seu desenvolvimento é que leva a novos questionamentos. Uma abordagem diferente de um problema já muitas vezes apresentado no cinema: O casal Doug (Gandolfini) e Lois (Leo),  despedaçado pela morte acidental da filha enfrenta uma crise no relacionamento. Ele viaja para assistir a um congresso e, na busca por fugir dos contatos sociais, insuportáveis, refugia-se em uma casa de strip-tease. Lá conhece a jovem Alisson/Mallory (Stewart) desamparada e sozinha que luta em situações muito difíceis. Ao decidir depositar seu carinho e cuidado nesta órfã ressurge seu interesse pela vida. Este ato irá desencadear uma profunda modificação na vida de todos trazendo a cada um intensas reflexões sobre suas escolhas e os respectivos resultados.
O Filme é lento, porém, nunca monótono. O ritmo pausado destaca as nuances de interpretação do trio de protagonistas. As situações provocam reflexões e os personagens são complexos, ora compreendendo o estado de coisas em que vivem, ora buscando intervir tentando alterar a dura realidade que a vida a eles impôs.
O trabalho dos atores é fascinante: Melissa Leo já indicada ao Oscar por “Rio Congelado” e vencedora este ano na categoria Atriz Coadjuvante por “O Vencedor” é uma atriz extraordinária. É notável o complexo de emoções das quais a atriz é capaz com a sua grande  aptidão técnica. James Gandolfini, conhecido por seu trabalho na série “The Sopranos”, é um ótimo ator e aqui surge como um verdadeiro “gigante gentil”. Diretamente proporcional à sua grande estatura física demonstra ser um intérprete capaz de emoções genuinamente verdadeiras. É difícil não se emocionar com suas lágrimas (e a busca por contê-las) quando se refugia na garagem em busca de seu isolamento para reflexão. E Kristen Stewart, notabilizada pela personagem Bella da saga “Crepúsculo”, brinda o público com uma interpretação ao nível da dos veteranos. É perfeita a cena em que ela, contendo as lágrimas, se ressente dos ensinamentos de Doug ao ensiná-la a arrumar a cama, na busca pelo resgate de algo de valor em sua história pessoal.
Destaco algumas cenas: A belíssima e verdadeira troca de carinhos no de reencontro do casal quando Lois chega à cidade onde está Doug e este vai ao seu encontro. A cena logo no início em que Doug vai ao cemitério e surpreende-se com as lápides. E o enquadramento estático do beco por onde adentra Alisson/Mallory perto do final quando o casal, aguarda a volta da “filha adotiva” para, evitando buscá-la e cometer duas vezes o mesmo erro, amargamente aceitar  que a realidade é bem mais árdua do que a ilusão de ambos em compensar o passado.
Lindíssimo filme que nos faz pensar sobre as perdas, nossa (in) tolerância e o respeito às decisões alheias, “Corações Perdidos” é uma obra que discute a dor, o perdão, o amor e o companheirismo. Após a projeção o público também “ressurge das cinzas”, modificados, tanto quanto os personagens, com os corações profundamente tocados de lágrimas, perdão, respeito e um leve otimismo. Nota 9,0.    

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