sábado, 29 de outubro de 2011

Tetro - A nova obra do mestre Coppola atesta sua grande forma.

O trio de protagonistas de "Tetro".
Miranda será responsável por remover as barreiras entre os irmãos
TETRO de Francis Ford Coppola.
Acabo de assistir ao mais recente filme do veterano Francis Ford Coppola.
 
 
Coppola é um dos gigantes do cinema. Contemporâneo de Scorsese, DePalma e de outros nomes que despontaram no início dos anos 70, é autor de um catálogo marcante. Em meus 10 filmes favoritos está o espetacular “Apocalypse Now” - a ópera definitiva sobre os efeitos dos conflitos bélicos junto à fragilidade do coração humano. Anteriormente Coppola tinha atingido seu ápice ao dirigir sua obra prima – o Poderoso Chefão – e o fez com tamanho rigor artístico que foi, nas três partes da Obra, indicado ao Oscar levando os prêmios de melhor filme em 1973 e 1975. Na verdade não é isto que atesta a qualidade do filme, pois, uma premiação que opta por coroar Kramer VS, Kramer em detrimento do já citado Apocalypse Now não pode se intitular de “premio máximo do cinema”, servindo mais como indicador de vendagem de pipoca. Entretanto, a título de grande público, pelo menos, é um norteador de qualidade para veicular aos corações e mentes do mercado consumidor obras que tem um quilate mínimo de excelência.
Coppola cometeu alguns deslizes em sua carreira, como “O Homem que Fazia Chover” e perdeu um pouco o senso de ritmo em “O Fundo do Coração. E, confesso que, ao buscar “Tetro” na locadora, imaginei que veria um filme acadêmico de um diretor que já não tinha mais o que apresentar sendo mais como um hobby de aposentadoria do que uma obra propriamente dita do cineasta.
Porém, ledo engano, “Tetro” inicia com uma abertura em tom de sonho, com tomadas diagonais, o que demonstra que o diretor não está realizando um trabalho burocrático. Ao contrário, hipnotiza-nos com suas imagens com o nítido intuito de quebrar nossa relação com o mundo externo e nos inserir em seu drama psicológico.
A história da procura do irmão caçula pelo mais velho desaparecido trilha uma estrada de personagens enigmáticos, estranhos, quase surreais, mas concentra a tensão no trio central.  Os irmãos Angelo (Vincent Gallo) e Bennie (Alden Ehenreich), são como caixas contendo as peças de um enigma hermético no qual a participação muitas vezes intrusiva de Miranda (Maribel Verdú)serve como a chave que irá abrir as portas entre os irmãos e estabelecer as pontes entre suas histórias pessoais para entregar um final de árdua incisão. Assim, Miranda explicita de forma extremamente eficaz as motivações de cada personagem  preenchendo as lacunas abissais entre suas as conexões.
Falar mais sobre a história pode ser perigoso arriscando revelar qualquer detalhe que estrague o ato de assistir à obra, portanto, vale mais ressaltar algumas cenas (QUEM NÃO ASSISTIU AO FILME LEIA DEPOIS DE ASSISTIR): a direção dos atores é impecável, com destaque para a cena logo no início em que o Bennie lê uma carta e, com o rosto praticamente imóvel, transborda uma emoção guardada há anos. A atuação de Alden Ehenreich é riquíssima em nuances e seus olhos falam por si. Outra cena que me travou a respiração foi aquela se passa em um bar onde após Angelo criar um enigma sentimental sob a forma de um cigarro aceso, Miranda, quase que em silêncio demonstra seu profundo amor num sutil sussurrar enquanto seus olhos se enchem de lágrimas. Mas, a gigantesca cena que ilustra o cerne da história é manifestada na forma de um balé surrealista no qual interagem as ondas do mar. Coppola usa partes de sua linguagem do filme “O fundo do coração” e aqui, sim, cria uma cena de intensa profundidade. Aliás, todos os balés que simbolizam as passagens conflituosas do decorrer do filme são maravilhosos com construção cênica e coreográfica irretocáveis. Um verdadeiro delírio aos olhos e ao coração.
Ambientado em Buenos Aires e, por isso mesmo, condizente com a atmosfera que a capital da “plata” possui, o filme tem fotografia belíssima e todos os (sutis) efeitos apresentados só tendem a amplificar o significado de cada aparição. Como, por exemplo, os brilhos nas montanhas da Patagônia que, em certo momento criam um elo com a memória interior nos olhos do protagonista.
Com a atuação um coadjuvante de extrema perfeição técnico-interpretativa - o veterano Klaus Maria Brandaurer - Coppola sedimenta as peças de seu quebra-cabeça. Ele é o olho do furacão interior que corroí a personalidade de Angel. Sua presença na tela confere a dualidade necessária entre o pai e rival que acionará a ignição da catarse artística formando a personalidade de Angel. Nada mais vale falar sobre o personagem. Só vendo para compreender.
Enfim, “Tetro” é uma obra ímpar. Em 1997 quando Kubrick, (na minha opinião) o maior cineasta da história nos deixou, afirmei que com ele o cinema também havia nos deixado. Eu havia esquecido de que a geração que estourou no final dos anos 60 e durante os 70 como, por exemplo Scorsese, Milos Forman, Cronenberg e outros, ainda se encontra na ativa. Assim, de vez em quando, nos momentos em que uma dessas vozes se prepara para pronunciar um novo trabalho, com certeza será criada uma nova estética cinematográfica, diversa das explosões, clichês, efeitos sonoros, super-tiras e heróis irônicos, e, montagem acelerada com que hoje em dia a tela nos bombardeia. Ainda existem cineastas que respeitam o cinema como expressão artístico-filosófica. E fiquei extremamente emocionado e agradecido pelo Mestre Coppola me lembrar disso nos dias atuais. Nota 10.00!

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